A filha adotiva do diretor Woody Allen e da atriz Mia Farrow, Dylan Farrow, de 28 anos, decidiu, pela primeira vez, narrar sua versão de um incidente de 1992 em que acusa Allen de abuso sexual. “Qual é seu filme predileto de Woody Allen? Antes de responder, você deve saber: quando eu tinha sete anos, Woody Allen me levou pela mão a um quarto escuro, como um closet, no segundo andar de nossa casa. Ele mandou me deitar de bruços e brincar com o trenzinho do meu irmão. Então, abusou sexualmente de mim.”
Assim começa a dolorosa “carta aberta” de Dylan, hoje casada, com filhos, que vive na Flórida sob outro nome. A carta foi enviada ao colunista Nicholas Kristof, do New York Times, e publicada na íntegra, no sábado, no site do jornal.
Neste domingo (2), a edição impressa trouxe apenas trechos inseridos na coluna de opinião de Kristof, conhecido por cruzadas humanitárias, denúncias de tráfico humano e exploração sexual. O incidente de 4 de agosto de 1992 está no centro da tumultuada separação de Woody Allen e Mia Farrow, ao fim de 12 anos de uma união incomum - os dois não se casaram e Allen, embora tenha adotado Dylan e Moses, dois dos então sete filhos adotivos de Mia Farrow, nunca morou com a companheira.
A crise do casal começou quando Mia Farrow descobriu, em janeiro 1992, no apartamento de Allen, fotos de Soon-Yi, sua filha adotiva com o ex-marido, o maestro e compositor André Previn. Nas fotos, a coreana, então com 19 ou 21 anos, posava nua para o diretor. Os dois se casaram e hoje vivem juntos em Manhattan.
A carta de Dylan Farrow provocou enorme reação na mídia social e os comentários são predominantemente negativos. Ao tomar seu lugar habitual na companhia de Bechet, de 15 anos, uma de suas duas filhas adotivas com Soon-Yi, no Madison Square Garden, no sábado, Woody Allen não sabia que veria seu time de basquete, o New York Knicks, perder para o Miami Heat.
Mas o diretor, que concorre ao Oscar de melhor roteiro por Blue Jasmine, já entrou no ginásio sob uma nuvem de condenação pela divulgação da carta. Consultado com antecedência pelo New York Times, ele se recusou a comentar a acusação.
Woody Allen nunca foi processado criminalmente pelo alegado abuso. Dylan foi examinada por médicos que não conseguiram recolher dela depoimentos que incriminassem de maneira convincente o pai adotivo.
Allen foi entrevistado por psiquiatras e se submeteu a um teste de detector de mentiras. Quando foi acusado de abuso sexual, ele processou Mia Farrow pela custódia de Dylan e Moses, além do filho natural do casal, registrado como Satchel, e perdeu. Satchel foi rebatizado Ronan pela mãe.
Ronan Farrow, hoje com 25 anos, foi um menino prodígio que começou a cursar faculdade aos 11 anos, fez pós-graduação em Direito na Universidade de Yale aos 16, trabalhou no Departamento de Estado sob Hillary Clinton e seguiu os passos de militância humanitária da mãe.
A polêmica sobre o abuso sexual de Dylan foi reacendida quando Mia Farrow deu uma entrevista à Vanity Fair em outubro, numa reportagem em que alguns dos filhos da atriz atacaram Woody Allen. Na mesma entrevista, Mia Farrow declarou que Ronan seria “possivelmente” filho de Frank Sinatra, e não de Woody Allen.
Ela se casou com o cantor aos 19 anos. Ele pediu divórcio quando ela insistiu em atuar em O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski. No Globo de Ouro, em 12 de janeiro, pouco antes de um tributo a Woody Allen, Mia Farrow foi ao Twitter sugerir sarcasticamente que era hora de trocar de canal.
Mas Ronan provocou a maior controvérsia ao escrever, também no microblog: “Não vi a homenagem. Eles falaram da parte em que uma mulher confirmou publicamente que foi abusada por ele na infância, antes ou depois de Annie Hall?”
Na carta, Dylan Farrow se dirige aos atores que trabalharam com Woody Allen, entre eles, Diane Keaton, que aceitou o Globo de Ouro no lugar do diretor: “Você me conhecia quando eu era uma menina, Diane Keaton. Você se esqueceu de mim?”
Só duas pessoas conhecem a verdade. Mas não há dúvida de que, 20 anos depois de perder na justiça americana, a família Farrow escolheu outra instância para julgar Woody Allen.
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